11 — Certeza quantitativa
Por vivermos numa Democracia, que
encontra na maioria numérica um de seus critérios norteadores, muitas pessoas
passam a legitimar seus comportamentos, gostos e crenças com base na quantidade
de seus respectivos adeptos. Se a maioria aprova deve ser bom. Aquilo em que
todo mundo acredita com certeza é verdade. Nada como o incrível poder do homo
sapiens de transformar seus devaneios mais insólitos em verdades absolutas — e
por vezes metafísicas.
12 — Alternância do saber
O estudo consiste numa relação de amor, procrastinação e culpa, que giram necessariamente nessa ordem num ciclo interminável.
13 — Relatividade meritocrática
Não acho que cada povo tenha o governo
que merece, tampouco que cada pessoa tenha a vida que merece; simplesmente não
é uma questão de merecimento, mas de contingências. Uma série de fatores, mormente
sociais, políticos e econômicos faz com que cada governo/sociedade/Estado se
forme como tal. Individualmente, o fato de se nascer numa época/local onde haja
democracia/autoritarismo, por exemplo, é mero fruto da aleatoriedade do acaso.
No plano subjetivo, as possibilidades são inúmeras para todos, mas é evidente que
a situação fática de cada um torne certas possibilidades mais suscetíveis para
uns do que para outros, sendo o merecimento um pequeno fator nessa história
toda.
14 — Prolixidade jurídica
Uma parte considerável do extenso
vocabulário dos juristas se resume em dizer a mesma coisa repetidamente de
maneiras diferentes.
15 — Uma mentira conveniente
Enfrentar uma prova sem ter estudado o
suficiente não denota preguiça, mas coragem e bravura — e claro que isso não é
uma desculpa mental.
16 — Auto ignorância
A maior parte da visão de mundo de cada
indivíduo, constituída por suas opiniões e posicionamentos acerca das mais
variadas e substanciais questões, é formada sobretudo por lacunas, que costumam
ser preenchidas com puro achismo.
17 — Ponderações prospectivas
Artista > Acadêmico > Burocrata
... < $ < $$$
18 — Uma consideração cyberpunk
Acordou numa manhã típica de 2113 ao som
de seu despertador, que emitia alguma música pop chinesa, dessas
exponencialmente exportadas para todo o mundo — parte do plano de dominação
cultural daquele país. Percebendo que seu download havia acabado, alcançou a
nuca com a mão direita e arrancou o cabo de transferência de dados,
desconectando-se da internet. Certificou-se de ter baixado todo o conteúdo e
percebeu que não tinha mesmo jeito: teria de aprender tudo aquilo da maneira
antiga. Observou em seu quarto os livros espalhados pelo chão, todos de autores
já há algum tempo não muito populares: Kierkegaard, Nietzsche, Fernando Pessoa,
Schopenhauer, Sartre, Shakespeare, Freud... Ponderou o quanto foi inútil
investir em tantos gigas de memória cerebral sendo que as informações que
desejava implantar não funcionavam. Concluiu que ao menos ainda podia utilizar
o espaço com todo o restante de coisas chatas, como matemática e cálculo,
assuntos pelos quais não fazia ideia por que antigamente algumas pessoas se
dedicavam.
19 — O kantiano apaixonado
Após receber inúmeras demonstrações de
afeto da namorada e não conseguindo expressar-se de modo recíproco, quis
sintetizar o quanto ela é importante numa só máxima. Encarou-a e exteriorizou
seus mais profundos sentimentos: "Para mim você é um fim em si mesmo.”
20 — A eficiência da indiferente
natureza
A observação de um inseto morto no canto
da sala costuma ser proporcionada pela preguiça de removê-lo dali. Passado
algum tempo volta-se a atenção para ele e percebe-o rodeado por formigas. Alguns
instantes depois já não se pode mais vê-lo. Mais cruel do que o fato de que um
dia você será o inseto é ter consciência disso.
Hahahaha
ResponderExcluirMuito bom!
Ah a natureza é mesmo uma vadia indiferente a todos. Mas acho que todo ser humano seja um fim em si mesmo... exceto, é claro, pelos cientistas do direito, que na verdade são um meio em uma ficção jurídica utópica, normatizada por postulados pseudo-científicos potestativamente regulamentados pelo leviatã estatal.